A Linguagem da Dança
Como linguagem, a dança tem conteúdos próprios, capaz de desenvolver aspectos cognitivos que, uma vez integrados aos processos mentais, possibilitam uma melhor compreensão estética de mundo.
Os elementos básicos da dança são: movimento e não -movimento, corpo; espaço; ações; dinâmicas/ritmos; relacionamentos.
Perceber a dança como expressão e entendimento das realidades próximas e distantes e como as pessoas percebem seu corpo em movimento, nas diversas culturas, é fundamental para alcançar os objetivos do ensino dessa linguagem. [...]
[...] O Objeto central da linguagem da dança é o movimento, que se apresenta das mais variadas formas, de acordo com os textos e contextos nos quais estiver contido. O estudo do "corpo que dança e do corpo na dança " e a prática das possibilidades do movimento são objetos e fontes de conhecimento sistematizado e transformador
Quanto ao modo de dançar:
dança solo (ex.: coreografia de solista no balé, sapateado);
dança em dupla (ex.: tango, salsa, valsa, forró etc);
dança em grupo (ex.: danças de roda).
Quanto a origem:
dança folclórica (ex.: catira, carimbó, reisado etc);
dança histórica (ex.: sarabanda, bourré, gavota etc);
dança cerimonial (ex.: danças rituais indianas);
dança étnica (ex.: danças tradicionais de países ou regiões).
Quanto a finalidade:
dança erótica (ex.: can can, striptease);
dança cênica ou performática (ex.: balé, dança do ventre, sapateado);
dança social (ex.: dança de salão, axé);
dança religiosa/dança profética (ex.: dança sufi).
O ultimo Dançarino de Mao
A mania de querer se hollywoodizar não é algo exclusivo do Brasil de algum tempo atrás. Ela também afeta outros países, como a Austrália, que levou para as telas esta autobiografia do bailarino chinês Li Cunxin, com tudo que um filme sessão da tarde hollywoodiano tem direito.
O roteiro, adaptado por Jan Sardi (Diário de uma Paixão), trás uma penca de diálogos baratos e situações que abusam dos estereótipos chinês e estadunidense, para contar a história do menino que foi escolhido, aos 11 anos, dentre alunos de uma escola do interior chinês, para integrar a escola de dança Madame Mao, em 1973. Em 1979, Li foi convidado a fazer parte da Companhia Houston de Ballet, nos EUA, onde faria um intercâmbio de três meses. O choque de culturas e a perspectiva de uma nova vida mudaria para sempre a vida do bailarino.
A constante comparação que a roteirista faz entre EUA e China, sempre apontando que os EUA é mais e melhor que a China em tudo, é algo de inacreditável arrogância e mal gosto. A limitação já se inicia com o exagero na caracterização do capiau chinês que se deslumbra com a cidade grande – sendo que o cara viveu anos numa cidade do tamanho de Pequim.
Por outro lado e por ironia do destino (ou não), o elenco ocidental – sem exceção – está péssimo, com um agente de balé (Bruce Greenwood) de dar vergonha em qualquer intérprete de gays dos anos 80 e um elenco de apoio que tem toda razão de não terem feito mais nada de importante na carreira.
Em contrapartida, tem-se Joan Chen (O Último Imperador), brilhando como a mãe de Li, e Chi Cao, encarnando com visível dedicação o protagonista, não só como atuação, como na dosagem do aprendizado do inglês e, principalmente, nas inúmeras cenas de dança, todas brilhantemente executadas, algumas até emocionantes. As peças de balé escolhidas para compor o filme, aliás, são uma mais bonita que a outra. Elas fizeram realmente parte da carreira do verdadeiro Li Cunxin. Entende-se, então, o porquê de ele ter tido reconhecimento internacional.
Algumas imagens de arquivo são usadas para ilustrar alguns momentos históricos da China e ajudam bem a situar e a compreender os momentos do filme.
Clichês à parte, a obra dirigida por Bruce Beresford (Dirigindo Miss Daisy) prova que para derrubar uma bela história de vida é preciso muito. Felizmente, os defeitos de roteiro, elenco e má influência hollywoodiana.
não foram suficientes para tirar a simpatia desta agradável biografia “água com açúcar”
Curiosidades a respeito dos ballets de repertório :
A Bela Adormecida
Marcou o apogeu da Rússia dos Czares, além de ser o grande sucesso de Tchaikovsky em vida São características especiais da obra as variações muito ricas em técnica, especialmente a da Fada Lilás, que Petipa construiu para sua filha, Marie Mariusovna Petipa. Outra curiosidade é que a fada do mal, Carabosse, costumava ser apresentada por um homem, provavelmente para ficar mais grosseira e pesada.
Marcou o apogeu da Rússia dos Czares, além de ser o grande sucesso de Tchaikovsky em vida São características especiais da obra as variações muito ricas em técnica, especialmente a da Fada Lilás, que Petipa construiu para sua filha, Marie Mariusovna Petipa. Outra curiosidade é que a fada do mal, Carabosse, costumava ser apresentada por um homem, provavelmente para ficar mais grosseira e pesada.
A obra estreou apenas 13 dias antes da queda da bastilha, a título de curiosidade. E, assim como os ideais de "liberdade, igualdade e fraternidade", prosperou até hoje. Além de ser revolucionário no ponto de vista histórico, La Fille Mal Gardeé inovou, lançando um enredo com personagens reais e não ninfas, fadas e deuses, como nos ballets antigos. É o mais antigo dos ballets de repertório conhecidos até hoje.
As primeiras versões encenadas não obtiveram sucesso suficiente para se manterem até hoje, mas a versão estreada em 1869, com o libreto um pouco mais livre da obra, teve um sucesso arrebatador, creditado ao seu virtuosismo técnico.
Essa obra marca a ascensão da Rússia a centro mundial da dança. Foi dançado predominantemente na Rússia até a migração de grandes nomes soviéticos para o Ocidente. Só depois da chegada de Nureyev, Barishnikov e Balanchine no mundo ocidental é que o ballet passou a ser dançado com mais freqüência por nossas companhias.
Essa obra marca a ascensão da Rússia a centro mundial da dança. Foi dançado predominantemente na Rússia até a migração de grandes nomes soviéticos para o Ocidente. Só depois da chegada de Nureyev, Barishnikov e Balanchine no mundo ocidental é que o ballet passou a ser dançado com mais freqüência por nossas companhias.
O Quebra-Nozes foi um ballet que veio marcar a afirmação da Rússia como o grande centro mundial da dança, ao invés da França. A começar pelo seu coreógrafo, Lev Ivanov, que era russo e discípulo de Marius Petipa. Quando este perdeu seu interesse pela obra, por seu caráter infantil, Lev Ivanov assumiu a coreografia da obra. Foi a segunda composição de Tchaikovsky para ballet, e considerada um dos mais perfeitos casamentos entre coreografia e música, pois nenhum dos dois se sobressai em relação ao outro.
Antes de 1895, esse ballet já havia sido estreado com outra coreografia, de Julius Reisinger, em 1877. Foi um fracasso, pois a coreografia deixava a desejar, assim como a atuação da primeira bailarina, Pelágia Karpakova. Por ser protegida, Karpakova podia fazer o que bem quisesse, inclusive modificar as partituras e inserir solos seus no ballet já montado. O resultado de tantas interferências foi um ballet sem seqüência ou sequer identidade, e conseqüentemente fracassado.
A versão de 1895 possui coreografia de Lev Ivanov e Marius Petipa, este último tendo migrado para a Rússia fugindo do Mercantilismo e da desvalorização da arte na Europa Ocidental. Chegando na Rússia, Lev Ivanov se tornou seu assistente, mais tarde coreografando diversos ballets que levam sua assinatura.
É marca do Lago dos Cisnes a trama totalmente irreal, construída na época do Romantismo/ Realismo. A coreografia do 1º e do 3º ato, de Petipa, é extremamente vigorosa e técnica, enquanto os 2º e 4º atos, de Ivanov, são extremamente poéticos, e por causa dessa poesia e do casamento perfeito entre coreografia e música considera-se que o aprendiz superou o mestre.
A versão de 1895 possui coreografia de Lev Ivanov e Marius Petipa, este último tendo migrado para a Rússia fugindo do Mercantilismo e da desvalorização da arte na Europa Ocidental. Chegando na Rússia, Lev Ivanov se tornou seu assistente, mais tarde coreografando diversos ballets que levam sua assinatura.
É marca do Lago dos Cisnes a trama totalmente irreal, construída na época do Romantismo/ Realismo. A coreografia do 1º e do 3º ato, de Petipa, é extremamente vigorosa e técnica, enquanto os 2º e 4º atos, de Ivanov, são extremamente poéticos, e por causa dessa poesia e do casamento perfeito entre coreografia e música considera-se que o aprendiz superou o mestre.
Romeu e Julieta não é um ballet, mas sim vários, pois o romance de Shakespeare inspirou mais de cinqüenta produções. As primeiras foram encenadas desde 1785, mas a versão mais conhecida atualmente foi produzida em 1940, quase dois séculos depois. Também muitas músicas foram compostas para representar essa tragédia, e entre elas, versões de compositores famosos como Tchaikovsky e Berlioz também são conhecidas.
A versão estreada em 1940, com a música de Prokofiev, foi a que mais se popularizou na dança, tendo características singulares. À título de curiosidade, o roteiro para essa versão pretendia mudar a obra de Shakespeare, de modo que os amantes não morressem no final, mas a mudança não foi bem aceita, sendo abandonada. Também é marcante nessa obra a grande atenção com personagens secundários, como Mercúcio, que tem um tema próprio de quase trinta minutos, tornando-se um papel disputado pelos melhores bailarinos do mundo.
A versão estreada em 1940, com a música de Prokofiev, foi a que mais se popularizou na dança, tendo características singulares. À título de curiosidade, o roteiro para essa versão pretendia mudar a obra de Shakespeare, de modo que os amantes não morressem no final, mas a mudança não foi bem aceita, sendo abandonada. Também é marcante nessa obra a grande atenção com personagens secundários, como Mercúcio, que tem um tema próprio de quase trinta minutos, tornando-se um papel disputado pelos melhores bailarinos do mundo.
A maior novidade foi a construção do ballet usando sapatilhas de ponta. Temos registros de danças nas pontas dos pés anteriores à estréia de La Sylphide, mas esse foi a primeira peça cuja coreografia original previa o uso de sapatilhas de ponta do início ao final. Essa inovação gerou inúmeras mudanças na dança clássica, inclusive a recolocação do homem nas coreografias, passando a exercer mais o papel de partner do que de bailarino. Os pas-de-deux se tornaram mais sensuais, pois o homem, para dar mais suporte à bailarina, precisa tocá-la com mais freqüência e escorá-la com o próprio corpo.
Dois anos depois da estréia de La Sylphide na França, o ballet foi remontado na Dinamarca, com nova música e nova coreografia, de Herman Severin Lvenskjold e Auguste Bournonville, respectivamente. Essa é a versão conhecida atualmente, pois da versão de Taglioni só resta o libreto, que foi a única ferramenta utilizada na segunda versão. Foi o libreto que, inclusive, inspirou Bournonville a construir o ballet. Em 1971, o professor Pierre Lacote, após anos de pesquisas baseadas nas descrições e anotações da época, recompôs o ballet de Taglioni. Essa versão é a mais conhecida e dançada por companhias brasileiras.
Dois anos depois da estréia de La Sylphide na França, o ballet foi remontado na Dinamarca, com nova música e nova coreografia, de Herman Severin Lvenskjold e Auguste Bournonville, respectivamente. Essa é a versão conhecida atualmente, pois da versão de Taglioni só resta o libreto, que foi a única ferramenta utilizada na segunda versão. Foi o libreto que, inclusive, inspirou Bournonville a construir o ballet. Em 1971, o professor Pierre Lacote, após anos de pesquisas baseadas nas descrições e anotações da época, recompôs o ballet de Taglioni. Essa versão é a mais conhecida e dançada por companhias brasileiras.
Giselle foi um ballet extremamente marcante, por ser um dos mais puros exemplos do Romantismo do século XIX na dança. As características do romantismo mais presentes na obra são a trama, desenvolvida em torno de uma personagem feminina e a aparição de seres sobrenaturais (Willis), que vêm substituir os Deuses do Olimpo (Gregos e Romanos), que eram mais utilizados anteriormente.
"Raymonda" surgiu a partir da idéia de misturar a cultura medieval com o exotismo oriental, após sucessos como 'O Lago dos Cisnes' e “La Bayadére’. Assim pensaram em ambientar o bailado durante as Cruzadas, onde uma mulher fosse amada por dois homens e o choque de culturas pudesse ser explorada ao máximo. A partir destes itens o libreto de ‘Raymonda’ foi escrito por Lydia Pashkova, que não foi muito bem aceito por Vsevolojski, diretor do Teatro Imperial, que o reescreveu junto com Marius Petipa”.
Entre os muitos contratos importantes feito para a temporada lírica de 1845 pelo Diretor do Teatro de Sua Majestade, Benjamin Lumley, contam-se as negociações para a apresentação das quatro maiores bailarinas da época: Marie Taglioni , Carlotta Grisi , Fanny Cerrito e Lucile Grahn .
Pode-se fazer uma idéia das dificuldades surgidas para se reunir as quatro divas do ballet do século XIX, o trabalho de aparar as arestas e de procurar não ferir as suscetibilidades. Cada oscilação de um pé, cada passo tinha que ser extremamente pesado para não resultar em preponderância de uma sobre a outra. Um dos maiores problemas era o que cada uma iria executar, sendo que todas sabiam que o último solo seria o principal. O então diretor do Teatro Benjamin Lunley, sugeriu que elas dançariam de acordo com a idade, o primeiro solo, seria executado pela mais nova e o último, pela mais velha, subitamente todas optaram pelo primeiro solo. Ficou decidido que Lucile Grahn faria o primeiro, Carlotta Grisi o segundo, Fanny Cerrito em terceiro e finalmente Marie Taglioni com o último.
Finalmente tudo foi ajustado, e o triunfo deste PAS único foi enorme. Um crítico disse que "todo e qualquer outro sentimento transmudou-se em admiração quando as quatro bailarinas, principiaram a série de pitorescas figuras com que se inicia o espetáculo".
Foram apenas quatro apresentações, sendo que a terceira contou com a presença da Rainha Vitória, do Príncipe Albert e de altas autoridades.
Pode-se fazer uma idéia das dificuldades surgidas para se reunir as quatro divas do ballet do século XIX, o trabalho de aparar as arestas e de procurar não ferir as suscetibilidades. Cada oscilação de um pé, cada passo tinha que ser extremamente pesado para não resultar em preponderância de uma sobre a outra. Um dos maiores problemas era o que cada uma iria executar, sendo que todas sabiam que o último solo seria o principal. O então diretor do Teatro Benjamin Lunley, sugeriu que elas dançariam de acordo com a idade, o primeiro solo, seria executado pela mais nova e o último, pela mais velha, subitamente todas optaram pelo primeiro solo. Ficou decidido que Lucile Grahn faria o primeiro, Carlotta Grisi o segundo, Fanny Cerrito em terceiro e finalmente Marie Taglioni com o último.
Finalmente tudo foi ajustado, e o triunfo deste PAS único foi enorme. Um crítico disse que "todo e qualquer outro sentimento transmudou-se em admiração quando as quatro bailarinas, principiaram a série de pitorescas figuras com que se inicia o espetáculo".
Foram apenas quatro apresentações, sendo que a terceira contou com a presença da Rainha Vitória, do Príncipe Albert e de altas autoridades.
Bailarinos analisam o filme Cisne Negro
Antes do lançamento do filme nos Estados Unidos, em dezembro, a comunidade da dança havia imaginado “Cisne Negro” como uma atualização do clássico “Os Sapatinhos Vermelhos”(1948), de Michael Powell e Emeric Pressburger. Eles vieram a descobrir que o filme tem mais em comum com “O Bebê de Rosemary” (1968), de Roman Polanski: um retrato apavorante da caminhada de uma mulher em direção à loucura, ambientado em um mundo de claustrofobia e dor.
Houve quem se sentisse provocado: Robert Gottlieb, crítico de dança do “New York Observer”, disse que o diretor Darren Aronofsky “recapitula todas as representações errôneas e ultrapassadas do balé”, e que o retrata como uma grande “viagem sadomasoquista”. De vomitar calorias a mais aos tormentos infligidos pelo coreógrafo sádico (com sotaque estrangeiro, é claro), Aronofsky utiliza todos os estereótipos. E as cenas de dança são brutais. Natalie Portman foi aclamada: ela passou meses treinando, o que permitiu fingir razoavelmente com o tronco, os braços e a cabeça. O material principal de dança, no entanto, é de dublês.
Mas o que bailarinos reais pensam de “Cisne Negro”? Cinco dos maiores nomes do balé inglês e o diretor artístico da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil assistiram ao filme e comentam suas impressões:
“É um filme preguiçoso”
Tamara Rojo, bailarina do Royal Ballet
“Tenho um grande problema com este filme usar uma atriz, não uma bailarina, para interpretar Nina: o diretor parece pensar que, em alguns meses, pode-se aprender uma profissão que toma anos apenas para entender, que dirá para ser bom. E no filme, supõe-se que Nina é incrível. É um filme muito preguiçoso, que dá espaço a todos os clichês do balé. Se você quer olhar para o lado negro da dança, faça-o com propriedade, não simplesmente largue uma cena em que uma bailarina vomita de repente. A mãe de Nina passa do clichê de uma mãe de bailarina – ela é uma psicopata. E as únicas pessoas que pareciam se divertir eram as que faziam sexo. Os filmes de balé a que os bailarinos voltam a assistir são aqueles que têm grandes dançarinos, como Mikhail Baryshnikov, Moira Shearer, Roland Petit e Zizi Jeanmaire. O balé não é algo que você pode adicionar, simplesmente. Os personagens são importantes por serem bailarinos – e se não são muito bons, não faz sentido.”
“Não mostra nada do prazer”
Lauren Cuthbertson, bailarina do Royal Ballet
“Queria não ser uma bailarina vendo este filme, para que pudesse vê-lo de outra perspectiva. Portman é uma atriz incrível, e posso ver por que ela se agarrou ao papel. Mas não importa o quão boa seja, é impossível que ela se pareça com uma bailarina profissional. E tenho certeza de que eles poderiam ter encontrado uma bailarina do calibre certo para fazer o papel. Algo da personagem parece correto. Todos somos obsessivos em como abordamos um novo papel: ele pode dominar nossos pensamentos por meses. E algumas de nós gostamos de usar tons pastel, às vezes. Mas no filme é tudo tão extremo. E Nina é uma menina tão boazinha, veste rosa o tempo todo e usa coque, mesmo na rua. O filme faz o balé parecer apenas sangue, suor, lágrimas e sacrifício. Claro, é um bom ponto de partida para um filme de horror, mas não mostra nada do prazer.”
“Faz a dança parecer ingênua”
Edward Watson, bailarino do Royal Ballet
“A coisa triste é que, enquanto o filme mostra a vontade que os bailarinos têm de se tornarem perfeitos, ele faz a dança parecer ingênua e risível. Não mostra por que o balé é tão importante para nós – por que queremos nos esforçar tanto. A melhor parte é a sequência de abertura, em que você vê Nina completamente envolvida na dança. Não acho que Portman se saiu mal: ela tem um bom pescoço, expressão facial e foco. E o filme acerta sobre o nível de estresse na profissão. Eu tive este tipo de sonho, em que perdia apresentações e ouvia a música, mas não conseguia chegar ao palco em tempo. De outro lado, parece que eles pegaram todos os clichês sobre balé e os amontoaram em um filme. Já vi alguns coreógrafos fazendo joguinhos com os bailarinos sobre quem eles vão escalar, mas nunca com essa intensidade. Um dos clichês que não foi tão contemplado foi a implicância. Pensei que haveria bailarinas se empurrando escada abaixo.”
“Tantas cenas são exageradas”
Elena Glurdjidze, bailarina do English National Ballet
“Fiquei um tanto chocada com o filme; não era nem de longe o que eu esperava. Acho que Portman se saiu bem para alguém sem treinamento. Ela não parecia estar fora do lugar na barra, e eu achava difícil dizer quando ela estava dançando e quando era a dublê. Mas tantas cenas são exageradas. E não reconheci nada sobre o balé “O Lago dos Cisnes”. Quando me preparava para ser Odile (o cisne negro) pela primeira vez, uma grande bailarina do Mariinsky disse que eu devia ser sedutora como um gato, mas tudo no contexto da coreografia. Sim, você tem que usar sua imaginação para incorporar um papel – mas não como Nina. Devo dizer, apesar de tudo, que gostei da maquiagem que fizeram nela. Natalie ficou incrível.”
“Odiei o diretor do balé”
Cassa Pancho, diretora artística do Ballet Black
“Você consegue notar que eles fizeram alguma pesquisa. Alguns detalhes, como as unhas do pé quebradas e como ela trabalha nas sapatilhas, marcando a sola e quebrando a ponta, eram corretos. E já vi bailarinos ficarem paranoicos, como Nina, quando perdem um ensaio e descobrem que alguém os substituiu – embora, obviamente, não ao ponto de empurrá-lo em direção ao espelho e puxá-lo para o banheiro pelos tornozelos. Odiei o diretor do balé. Ele é ridiculamente paternalista e implicante, como na cena em que entra na aula e começa a contar a história do Lago dos Cines batendo nos ombros dos bailarinos que não vai usar – se eu tentasse fazer isso, minha companhia me imobilizaria no chão e me mandaria para o hospital. A personagem mais realista é Lily, que fuma e se diverte. Mas, mesmo com ela, há detalhes incorretos, como quando ela ensaia com o cabelo solto. É outro clichê: ‘Olhe para mim, estou tão relaxada porque não prendo meu cabelo em um coque!’. Claro, é um filme de horror, ele deve ser extremo. Houve um feedback incrível no Twitter, mas o que a maioria das pessoas diz é: não se preocupe com o balé – vá pelas cenas de lesbianismo e pelo horror.”
“Foquei na mensagem que foi passada.”
Sérgio Lobato, diretor artístico da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil
“Gostei do filme. Não vou entrar no mérito se tem uma linda história ou se a fotografia é bonita. Foquei mais na mensagem que foi passada e que mostra a história de uma bailarina e não de todos os bailarinos, porque não dá para generalizar. Esta mensagem chama a atenção para que isso não ocorra e mostra que o bailarino precisa, junto com a família, viver, ser informado e não estar alienado a um único movimento. O artista necessita, não somente de uma técnica, mas de arte, de interpretação nos movimentos. Muita coisa do que foi mostrado acontece na dança, mas não podemos generalizar. Por exemplo, existe o medo da bailarina e a insegurança. A cobrança da mãe, que coloca suas frustrações sobre a carreira da filha, também é verdadeira e não só no balé, mas em diversas profissões. O que marcou é que, tanto no balé quanto na vida, nem só a técnica é determinante para a excelência. Há outros fatores que precisam ser levados em conta para se chegar a um resultado positivo. Há coisas exageradas, mas em toda montagem podemos ver coisas parecidas, como a cobrança do diretor, a busca da melhoria do próprio artista, a ansiedade. Este filme mostra uma parte do mundo do balé, para ter uma história de alegrias teria de ser feito um outro filme”.
Houve quem se sentisse provocado: Robert Gottlieb, crítico de dança do “New York Observer”, disse que o diretor Darren Aronofsky “recapitula todas as representações errôneas e ultrapassadas do balé”, e que o retrata como uma grande “viagem sadomasoquista”. De vomitar calorias a mais aos tormentos infligidos pelo coreógrafo sádico (com sotaque estrangeiro, é claro), Aronofsky utiliza todos os estereótipos. E as cenas de dança são brutais. Natalie Portman foi aclamada: ela passou meses treinando, o que permitiu fingir razoavelmente com o tronco, os braços e a cabeça. O material principal de dança, no entanto, é de dublês.
Mas o que bailarinos reais pensam de “Cisne Negro”? Cinco dos maiores nomes do balé inglês e o diretor artístico da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil assistiram ao filme e comentam suas impressões:
“É um filme preguiçoso”
Tamara Rojo, bailarina do Royal Ballet
“Tenho um grande problema com este filme usar uma atriz, não uma bailarina, para interpretar Nina: o diretor parece pensar que, em alguns meses, pode-se aprender uma profissão que toma anos apenas para entender, que dirá para ser bom. E no filme, supõe-se que Nina é incrível. É um filme muito preguiçoso, que dá espaço a todos os clichês do balé. Se você quer olhar para o lado negro da dança, faça-o com propriedade, não simplesmente largue uma cena em que uma bailarina vomita de repente. A mãe de Nina passa do clichê de uma mãe de bailarina – ela é uma psicopata. E as únicas pessoas que pareciam se divertir eram as que faziam sexo. Os filmes de balé a que os bailarinos voltam a assistir são aqueles que têm grandes dançarinos, como Mikhail Baryshnikov, Moira Shearer, Roland Petit e Zizi Jeanmaire. O balé não é algo que você pode adicionar, simplesmente. Os personagens são importantes por serem bailarinos – e se não são muito bons, não faz sentido.”
“Não mostra nada do prazer”
Lauren Cuthbertson, bailarina do Royal Ballet
“Queria não ser uma bailarina vendo este filme, para que pudesse vê-lo de outra perspectiva. Portman é uma atriz incrível, e posso ver por que ela se agarrou ao papel. Mas não importa o quão boa seja, é impossível que ela se pareça com uma bailarina profissional. E tenho certeza de que eles poderiam ter encontrado uma bailarina do calibre certo para fazer o papel. Algo da personagem parece correto. Todos somos obsessivos em como abordamos um novo papel: ele pode dominar nossos pensamentos por meses. E algumas de nós gostamos de usar tons pastel, às vezes. Mas no filme é tudo tão extremo. E Nina é uma menina tão boazinha, veste rosa o tempo todo e usa coque, mesmo na rua. O filme faz o balé parecer apenas sangue, suor, lágrimas e sacrifício. Claro, é um bom ponto de partida para um filme de horror, mas não mostra nada do prazer.”
“Faz a dança parecer ingênua”
Edward Watson, bailarino do Royal Ballet
“A coisa triste é que, enquanto o filme mostra a vontade que os bailarinos têm de se tornarem perfeitos, ele faz a dança parecer ingênua e risível. Não mostra por que o balé é tão importante para nós – por que queremos nos esforçar tanto. A melhor parte é a sequência de abertura, em que você vê Nina completamente envolvida na dança. Não acho que Portman se saiu mal: ela tem um bom pescoço, expressão facial e foco. E o filme acerta sobre o nível de estresse na profissão. Eu tive este tipo de sonho, em que perdia apresentações e ouvia a música, mas não conseguia chegar ao palco em tempo. De outro lado, parece que eles pegaram todos os clichês sobre balé e os amontoaram em um filme. Já vi alguns coreógrafos fazendo joguinhos com os bailarinos sobre quem eles vão escalar, mas nunca com essa intensidade. Um dos clichês que não foi tão contemplado foi a implicância. Pensei que haveria bailarinas se empurrando escada abaixo.”
“Tantas cenas são exageradas”
Elena Glurdjidze, bailarina do English National Ballet
“Fiquei um tanto chocada com o filme; não era nem de longe o que eu esperava. Acho que Portman se saiu bem para alguém sem treinamento. Ela não parecia estar fora do lugar na barra, e eu achava difícil dizer quando ela estava dançando e quando era a dublê. Mas tantas cenas são exageradas. E não reconheci nada sobre o balé “O Lago dos Cisnes”. Quando me preparava para ser Odile (o cisne negro) pela primeira vez, uma grande bailarina do Mariinsky disse que eu devia ser sedutora como um gato, mas tudo no contexto da coreografia. Sim, você tem que usar sua imaginação para incorporar um papel – mas não como Nina. Devo dizer, apesar de tudo, que gostei da maquiagem que fizeram nela. Natalie ficou incrível.”
“Odiei o diretor do balé”
Cassa Pancho, diretora artística do Ballet Black
“Você consegue notar que eles fizeram alguma pesquisa. Alguns detalhes, como as unhas do pé quebradas e como ela trabalha nas sapatilhas, marcando a sola e quebrando a ponta, eram corretos. E já vi bailarinos ficarem paranoicos, como Nina, quando perdem um ensaio e descobrem que alguém os substituiu – embora, obviamente, não ao ponto de empurrá-lo em direção ao espelho e puxá-lo para o banheiro pelos tornozelos. Odiei o diretor do balé. Ele é ridiculamente paternalista e implicante, como na cena em que entra na aula e começa a contar a história do Lago dos Cines batendo nos ombros dos bailarinos que não vai usar – se eu tentasse fazer isso, minha companhia me imobilizaria no chão e me mandaria para o hospital. A personagem mais realista é Lily, que fuma e se diverte. Mas, mesmo com ela, há detalhes incorretos, como quando ela ensaia com o cabelo solto. É outro clichê: ‘Olhe para mim, estou tão relaxada porque não prendo meu cabelo em um coque!’. Claro, é um filme de horror, ele deve ser extremo. Houve um feedback incrível no Twitter, mas o que a maioria das pessoas diz é: não se preocupe com o balé – vá pelas cenas de lesbianismo e pelo horror.”
“Foquei na mensagem que foi passada.”
Sérgio Lobato, diretor artístico da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil
“Gostei do filme. Não vou entrar no mérito se tem uma linda história ou se a fotografia é bonita. Foquei mais na mensagem que foi passada e que mostra a história de uma bailarina e não de todos os bailarinos, porque não dá para generalizar. Esta mensagem chama a atenção para que isso não ocorra e mostra que o bailarino precisa, junto com a família, viver, ser informado e não estar alienado a um único movimento. O artista necessita, não somente de uma técnica, mas de arte, de interpretação nos movimentos. Muita coisa do que foi mostrado acontece na dança, mas não podemos generalizar. Por exemplo, existe o medo da bailarina e a insegurança. A cobrança da mãe, que coloca suas frustrações sobre a carreira da filha, também é verdadeira e não só no balé, mas em diversas profissões. O que marcou é que, tanto no balé quanto na vida, nem só a técnica é determinante para a excelência. Há outros fatores que precisam ser levados em conta para se chegar a um resultado positivo. Há coisas exageradas, mas em toda montagem podemos ver coisas parecidas, como a cobrança do diretor, a busca da melhoria do próprio artista, a ansiedade. Este filme mostra uma parte do mundo do balé, para ter uma história de alegrias teria de ser feito um outro filme”.